montagem biografia

 

Narrando a vida

Natalino Ferreira Mendes (*03/01/1924 - +23/12/2011) é um importante nome da cultura mato-grossense. Escreveu história, memória, crônica e poesia. Foi também educador, professor, diretor de escola de ensino fundamental e médio e, ao mesmo tempo, funcionário da Prefeitura Municipal de Cáceres e participante ativo dos eventos da cidade. Sua história de vida reúne um conjunto de atividades que começa na sala de aulas, passa por serviços de burocráticos e de gabinete e se complementa nas leituras e na pesquisa em arquivos da Câmara de Vereadores e do Arquivo Público de Cáceres. Nutriu pela cidade uma profunda curiosidade que o levou a produzir toda sua obra histórica, memorialística e poética. Pela dedicação à pesquisa e participação nos fatos e feitos da cidade foi homenageado por instituições civis, militares e eclesiásticas. É um dos mais conhecidos escritores locais. Seus textos são referência e sua memória é sempre reverenciada.

 

Bairro da Cavalhada
O bairro de nascimento do escritor. Ao fundo, a histórica (e demolida) Ponte Branca que unia o bairro ao centro da cidade.

 

Av. Sete de setembro - Cáceres/MT - 1980.

 

Infância e adolescência

Nasceu em Cáceres, no dia 3 de janeiro de 1924. Por muito tempo foi o caçula de Anatália Trindade Mendes (filha de Bento Anes da Fonseca - militar da guerra do Paraguai), e Bertholdo Ferreira Mendes (sapateiro), no seio de uma família de 6 filhos. Quando fazer chinelos e alpercatas deixou de ser rentável, seu pai abriu um bolicho, que tinha um pouco de tudo. Passou a infância no histórico bairro “Cavalhada”, tendo ao fundo de sua casa o córrego “Sangradouro”, de saudosa memória do universo infantil. Era colaborativo na família, apesar de ter a saúde bastante debilitada. Seu pai mantinha horta doméstica e a ele cabia o trabalho de aguar diariamente; sua mãe fazia doces e era ele quem entregava as bandejas no comércio local. Mesmo tendo uma infância de muito trabalho, Natalino nunca deixou de manter contato com os livros, encontrados em abundância na biblioteca da escola dos padres.

 

 

Atuação constante na educação

Natalino fez seus primeiros estudos formais no Colégio São Luiz, dos Padres Franciscanos, que muito contribuíram com a base do seu conhecimento, bem como para sua formação religiosa e a tendência para os livros. Tornou-se amigo de muitos religiosos, participando ativamente das atividades promovidas pela igreja e pela comunidade cacerense, principalmente nos festejos de São Luiz, padroeiro da cidade.

 

No CIC, entre normalistas

 

 
Em solenidade de formatura

 

Nos anos 1940 frequentou Tiro de guerra em Cuiabá, ocasião em que construiu o diálogo com várias personalidades da cidade, que depois seriam seus colegas no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso/IHGMT e na Academia Mato-Grossense de Letras/AML: Cesário Neto, Benedito Figueiredo, Pe. Firmo, Francisco Ferreira Mendes, entre outros. Retornou a Cáceres, em 1944, quando começou a vida como profissional da educação. Foi Diretor e professor do Instituto “Onze de Março”, estabelecimento particular de ensino primário que ajudou a criar (1944 a 1948), transformado em escola pública com o nome de Colégio Estadual “Onze de Março”, atuando como professor de Português de 1948 a 1980. Desse Colégio foi Diretor por dois períodos: de 1948 a 1956 e de 1961 a 1966, além de trabalhar, também, como professor da Escola Normal do Colégio Imaculada Conceição, das Irmãs Azuis de França. No final dos anos 1970 fez o Ensino Médio na Escola Técnica de Comércio Raimundo Cândido dos Reis, anexa à Escola União e Força. Por ser um homem de intensa atividade cívica e cultural, seu nome está na Escola Natalino Ferreira Mendes; no Auditório da Fundação Cultural de Cáceres e na Faculdade do Pantanal/FAPAN, tornando-se referência/símbolo da comunidade.  

 

Alistamento Militar

 

Natalino e Olga
Natalino e Olga em 1946, 1 ano antes do casamento.

 

Casamento
Casamento em 1947.

 

Família
Com a família nas Bodas de ouro (2007)
Da esquerda para direita: Luís César, Olga Maria, Márcio, Marilda, Marilce e Vanilda

 

Em 1947 casa-se com Olga Castrillon, oriunda de família de imigrantes galegos, com quem conviveu durante 64 anos. Teve 6 filhos, 13 netos e 13 bisnetos. Não gostava de viajar. Dizia que já o fazia através dos livros, tendo construído uma vasta biblioteca que hoje é utilizada pela comunidade, abrigando a sede do Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres/IHGC, que ajudou a criar. Nesse local atendia os jovens estudantes que o procuravam em busca de referência bibliográfica sobre a cidade ou o estado de Mato Grosso, dados sobre a cultura histórica e popular, ou simplesmente para troca de experiências e conversas informais. Seus ex-alunos sempre o visitavam para dizer o quanto foram beneficiados pela sua conduta como professor e diretor. Com os amigos mais próximos costumava manter longos diálogos em casa, ou durante as caminhadas matinais. Seu maior prazer era estar às margens do rio Paraguai e nas encostas da serra que margeia o sítio do Taquaral (antiga Sesmaria), localidade de origem de sua família. Uma pequena comunidade, a 18 Km da cidade, que vivia de suas roças, produção de farinha, rapadura, criação de gado e de pequenos animais comercializados no Mercado Municipal da cidade. Sua ligação com a terra se manifestou fortemente nos anos da aposentadoria, quando teve oportunidade de manter longas conversas com vaqueiros e ribeirinhos, bebendo na fonte dos “causos” e fatos da infância. Muito dessa memória estão presentes nas suas crônicas e poemas.   

 

Máquina de escrever
A máquina de onde brotaram a história e a poesia da cidade. Utilizou-a até o fim da vida e ainda hoje é parte do seu acervo pessoal.

 

Início da criação literária

Natalino costumava dizer e escrever que, segundo seus conhecimentos, pesquisas interior e exterior, o poeta e o artista nascem com o pendor da escrita. Então, praticamente o que fez foi desenvolver o “dom” recebido. Desde muito cedo escrevia cartas em que deixou gravados os primeiros poemas àquela que viria a se tornar sua esposa. Por força da profissão, produziu discursos que eram falados (poucas vezes lidos) em solenidades cívicas, culturais e em eventos educacionais, muitos deles como representante do poder público ou em decorrência de homenagens e cerimônias cívicas e sociais. Sua retórica costumava encantar as plateias pelo conteúdo cuidadosamente estudado e pela fé na vida, nos homens e na sociedade. Muitos desses discursos e cartas (de 1948 a 1980) fazem parte dos seus inéditos.

 

Ginásio Onze de Março
Formatura da 1ª turma do Ginásio Onze de Março (quando funcionava no Grupo Escolar Espiridião Marques).

 

Praça Barão do Rio Branco
Em evento oficial ao lado do histórico Marco do Jauru, na Praça Barão do Rio Branco

 

Praça Barão do Rio Branco
Em evento oficial ao lado do histórico Marco do Jauru, na Praça Barão do Rio Branco

 

Vida civil e cargos

Vida narrada por ele mesmo em entrevista ao Sr. Batista Rup, do jornal “Correio Cacerense”, no dia 20/06/2006.

  1. “Exerci as funções de professor durante 36 anos, em Cáceres-MT (de 1944 a 1980, nos seguintes estabelecimentos:

*Diretor e professor do Instituto Onze de Março, estabelecimento particular de ensino primário (1944/1948).
*Professor de Português do Colégio Estadual Onze de Março (1948/1980).
*Diretor do mesmo Colégio Estadual Onze de Março, nos seguintes períodos: 1948/1956 e 1961/1966.
*Professor de Português da Escola Normal do Colégio Imaculada Conceição.

  1. Em atividade no serviço público municipal estive 37 anos, nas seguintes funções:

*Secretário de Administração e de Desenvolvimento Social (onde se inseria a Educação), por 28 anos.
*Chefia de Gabinete do Prefeito – 09 anos.
*As administrações municipais de que participei foram:

    • Dr. José Gentil da Silva (1944/45 e 1945-46)
    • Des. Gabriel Pinto de Arruda (1945)
    • José Estêvão de Figueiredo (1946/47)
    • Dr. José Rodrigues Fontes (1947/51; 1955/59 e 1963/67)
    • Dr. Luiz Marques Ambrósio (1971/73)
    • José Souto Faria (1973/75)
    • Ernani Martins (1975/80)
    • Dr. Ivo Cuiabano Scaff (1980/83)
    • Ana Maria da Costa e Faria (1983/85)
    • Dr. Antônio Carlos Souto Fontes (1986/88 e 1993/96)
    • Dr. Walter Fidelis (1989/92).

03. No momento, encontra-se em preparo, pelo Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres/IHGC, a segunda edição atualizada do meu primeiro livro História de Cáceres: administração municipal, publicado em 1973.

04. A Academia Mato-Grossense de Letras, constituída como personalidade jurídica de duração ilimitada, é uma associação com finalidade exclusivamente literária e cultural.

Objetivos:

  • Culto do idioma nacional e das literaturas nacional e estadual;
  • Estudo dos problemas de interesse cultural que preocupam o mundo contemporâneo;  
  • Congraçamento e aproximação entre os representantes da cultura nacional e estadual.
  • Dedico-me, na Academia, à educação e à cultura, de cujas atividades nunca se aposenta.
  • Ocupo na Casa Barão de Melgaço a Cadeira nº 15, que tem como Patrono o Dr. Joaquim Mendes Malheiros.

05. Participei da criação do Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres/IHGC como representante do congênere de Mato Grosso, em Cuiabá, e acompanho a difícil caminhada da Entidade. A ela cedi os originais do meu primeiro livro História de Cáceres (1973) para uma possível reedição atualizada.

Sou, também, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, em Cuiabá, empossado em 1977.

06. O momento político é de apreensão. Cáceres sofre, há muito, as consequências maléficas da falta de representação política na Assembleia Legislativa do Estado, apesar da força eleitoral de que dispõe. Está, nesse aspecto, como um astro desgarrado do respectivo sistema. Afastou-se da casa de decisões no âmbito estadual no qual o Município está inserido e agora pena no isolamento a que foi levado. É o momento de reflexão mais profunda dos partidos políticos junto ao povo que lhes dá o poder.

07. Os anos 60 marcam o início do que foi chamado, na época, NOVA CÁCERES, proclamada pela administração municipal, dentro do espírito de renovação que despertava no País. Cáceres deixou o isolamento em que se encontrava. Não somos mais aquela comunidade quase familiar. Somos parte do mundo que se tornou pequeno pelos meios de comunicação. Como parte desse todo sofremos as suas influências benéficas e maléficas numa intensidade que nos assusta.

08. A memória da nossa terra registra do passado as grandes festas populares de São Benedito e Senhor Divino que movimentavam a cidade por muitos dias e nas quais se apresentavam as touradas, as cavalhadas e outras diversões. Lembra-nos os bailes familiares, os pianos que se faziam ouvir nas casas das famílias abastadas; os clubes sociais como Rex, Mato Grosso e Humaitá; os bailes de gala no salão nobre do prédio do governo municipal; as bandas de música e as orquestras particulares; o colégio São Luiz, dos padres franciscanos e o colégio Santana, das Irmãs Alves Corrêa, ambos na avenida 7 de setembro; a velha igreja matriz, substituída pela Catedral; as festas religiosas (de devoção a um santo) nas famílias; o apito da máquina a vapor da Serraria Castrillon, marcando o horário de trabalho da empresa; o vapor Etrúria – o elo de ligação entre Cáceres e Corumbá – com seu sonoro apito. Memória que nos transmite o estilo de vida do passado da Comunidade cacerense constituída por um povo ordeiro, trabalhador, tranquilo e alegre.

Cáceres, 23 de junho de 2006

Natalino Ferreira Mendes

 

Cerimônia de formatura
Cerimônia de formatura. Ao lado, o prefeito Rodrigues. (Esta foto deve ser dos anos 50/60)

 

Em evento oficial
Em evento oficial

 

Com o prefeito Ernani Martins
Com o prefeito Ernani Martins (08/06/1975-30/04/1980)

 

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